O zolpidem é um hipnótico amplamente utilizado como alternativa terapêutica para o tratamento da Insônia, um dos fatores que justificam este fato é que ele não apresenta os eventos adversos encontrados nos benzodiazepínicos (1). Este medicamento tem meia-vida intermediária de 1,5 a 4,5 horas e é indicado para insônia de início do sono ou de manutenção do sono, normalmente utiliza-se formulações de liberação imediata em todos os pacientes, mesmo naqueles com queixas de manutenção do sono, no entanto, uma formulação de liberação prolongada pode ser tentada naqueles que não têm efeito adequado com a formulação de liberação imediata(1).

No entanto um efeito colateral deste medicamento tem repercutido bastante, ele ocorre quando as pessoas utilizam o zolpidem e acabam não indo dormir logo em seguida, tecnicamente esses efeitos podem ser explicados como os comportamentos complexos do sono, incluindo sonambulismo, condução do sono e envolvimento em outras atividades enquanto não totalmente acordado (2). Alguns desses eventos podem resultar em ferimentos graves, incluindo até morte. Recentemente ocorreu até uma trend no twitter onde centenas de pessoas relataram experiências após utilização do zolpidem.

A Food and Drug Administration (FDA) dos EUA adicionou um aviso na caixa do medicamento em 2019 sobre o risco de comportamentos complexos relacionados ao sono raros, mas sérios. O aviso em caixa foi adicionado a todas as formulações de zolpidem, zaleplon e eszopiclona, ​​juntamente com as informações e orientações (3–5). Os relatos de pessoas que estouraram todo o limite do cartão de crédito, mandaram mensagem xingando o chefe de madrugada e até mesmo relatos de violência física. A recomendação é que ao sentir qualquer um desses efeitos o paciente deve interromper imediatamente o tratamento(5). Vale ressaltar que o que zolpidem não é considerado um medicamento de uso contínuo, sua indicação para insônia é indicado em uso de curto prazo (≤ 4 a 8 semanas), de preferência em conjunto com terapias não farmacológicas (6).

Nesse sentido, muitos desses casos poderiam ter sido evitados mediante uma orientação adequada de uso ao paciente, visto que muitas vezes essas informações são negligenciadas no momento da prescrição e na dispensação dos medicamentos (7). Considerando a missão da prática farmacêutica definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o serviço clínico de educação em saúde, no que tange o uso correto de medicamentos, a dispensação adequada pode interferir de maneira significativa no uso adequado de medicamentos pelo paciente(8).

O farmacêutico deve garantir as condições necessárias para que o paciente use o medicamento da melhor forma possível, desse modo, não se deve fornecer apenas algumas informações no momento da entrega do medicamento. A dispensação farmacêutica deve aliar critérios técnicos que garantam o recebimento de um medicamento ou dispositivo dentro dos padrões de qualidade, segurança e o caráter clínico, com educação em saúde que promova o uso adequado e apropriado dos medicamentos(9).

E os impactos reais de uma boa prática de dispensação e educação em saúde nós vemos em situações como estas onde a falta de orientação correta muda completamente a experiência do paciente durante o uso do medicamento, para além das questões de efetividade, podendo afetar diretamente a esfera social do paciente e a sua qualidade de vida.

 

REFERÊNCIAS

 

  1. Pharmacotherapy for insomnia in adults – UpToDate [Internet]. [cited 2022 Jul 12]. Available from: https://www.uptodate.com/contents/pharmacotherapy-for-insomnia-in-adults?source=history_widget
  2. Cubała WJ, Gabrielsson A. Sleep related amnestic behaviors due to zolpidem. Vol. 24, Klinik Psikofarmakoloji Bulteni. Cukurova Univ Tip Fakultesi Psikiyatri Anabilim Dali; 2014. p. 188–94. 
  3. Chopra A, Selim B, Silber MH, Krahn L. Para-suicidal amnestic behavior associated with chronic zolpidem use: Implications for patient safety. Psychosomatics. 2013 Sep;54(5):498–501. 
  4. Booth JN, Behring M, Cantor RS, Colantonio LD, Davidson S, Donnelly JP, et al. Zolpidem use and motor vehicle collisions in older drivers. Sleep Med. 2016 Apr 1;20:98–102. 
  5. Blumer JL, Findling RL, Shih WJ, Soubrane C, Reed MD. Controlled clinical trial of zolpidem for the treatment of insomnia associated with attention-deficit/hyperactivity disorder in children 6 to 17 years of age. Pediatrics. 2009 May;123(5). 
  6. Zolpidem: Drug information – UpToDate [Internet]. [cited 2022 Jul 15]. Available from: https://www.uptodate.com/contents/zolpidem-drug-information?search=zolpidem&source=panel_search_result&selectedTitle=1~48&usage_type=panel&kp_tab=drug_general&display_rank=1
  7. Hepler CD, Strand LM. Opportunities and responsibilities in pharmaceutical care. Am J Hosp Pharm. 1990;47(3):533–43. 
  8. ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE SALUD. El papel del farmacéutico en la atención a la salud: declaración de Tokio. In: La Organización Mundial de la Salud. 1993. p. 1–35. 
  9. Correr CJ, OTUKI MF. A Prática Farmacêutica na Farmácia comunitária. Porto Alegre: Artmed. 2013;434.